quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Diário de Viagem - Itália - parte 4

Hoje uma parte de mim ficou em Firenze. Foi onde tive o primeiro assomo de genuína emoção no meio da rua, cercada de magníficas estátuas na Piazza della Signoria e me deu vontade de chorar.

Firenze é o lugar que melhor traduz fisicamente o conceito de beleza, que se descortina e esparrama diante dos olhos por todos os lados. É inebriante, é extasiante. É o lugar que melhor conjuga o histórico dos prédios com o contemporâneo do comércio e do trânsito, num equilíbrio delicado e próprio.

O coração bateu mais forte quando fomos liberados e me vi solta pelas ruelas de Firenze.

Isso que não nos foi possível visitar os museus - a única parte que me deixa triste -, considerando que estamos ficando pouco tempo em cada lugar e as filas das bilheterias estavam quilométricas. 

Mas o simples fato de estar em Firenze, de respirar Firenze, de flanar pelas ruelas, é suficiente para despertar o espírito.

Tudo é magnificente aqui. A majestade da Cattedrale di Santa Maria del Fiore, a beleza da Piazza della Signoria, a austeridade do Palazzo Pitti, quase uma fortaleza, a riqueza do pátio interior da Basílica di Santa Croce... Amei Firenze com todo o coração.

Cada ruela reserva uma surpresa. Uma igreja, um prédio histórico, uma loja diferente... Até uma espécie de oficina de escultores...

E as pessoas daqui também são diferentes. As mais simpáticas, verdadeiramente simpáticas. Jamais vou esquecer o senhor da banquinha em que fui comprar uma bolsa turística pra guardar a tralharada que estava carregando e que foi extremamente educado, tomando tudo da minha mão e acomodando na bolsa pra mim. Ou a moça que nos atendeu no Mercado da Palha, na banca de legítimos lenços italianos. Extremamente simpática e educada. E me dizia que me conhecia de algum lugar, que não lhe sou estranha. E eu dizia ser impossível, por ser a minha primeira visita a Firenze. Eu e minhas amigas ainda ganhamos um lenço cada uma. Ou o maitre do Restaurante Il David, na Piazza della Signoria, onde almoçamos, pra quem disse "aspetta um attimino" (espera um minutinho) e que achou que eu era fiorentina, porque é uma expressão típica de Firenze, que nem todo mundo conhece. Ou a moça que nos atendeu no café.

Jamais vou esquecê-los, assim como nunca esqueci o senhor que me atendeu  em uma das lojas do mercado de Jerusalém. Me encantei com um colar; foi atração imediata, o colar e eu. Mas custava U$250. Eu podia gastar no máximo U$50. A conversa com o senhor foi tão bacana e ele queria muito que levasse o colar, porque viu que amei a peça. Acabou me vendendo pelos U$50, mesmo sem eu querer aceitar. Toda vez que olho o colar lembro dele e dessa história. Como lembro do garçom que salvou a mim e a minha mãe quando chegamos tarde da noite em Roma, nosso hotel não tinha água pra vender e ele, que era do restaurante ao lado, nos deu uma garrafa de presente. Ou o João Grande, o diminuto maleteiro de nosso hotel em Lisboa, que nos tratou com todo o carinho. Ou a Maria José e sua família, da Marisqueira Santa Marta, em Lisboa, que na véspera de Natal largou tudo o que estava fazendo pra nos levar para o hotel antes da meia noite (Maria José, voltarei a Lisboa em breve). E o senhor da loja de souvenirs próxima à Sarbucks, que deu um pequeno galo de Portugal pra cada uma de nós, minha irmã, minha mãe e eu. Ou o senhor dono da pastelaria defronte à estação de trem de Sintra, que, satisfeito com a nossa comilança, disse que fazia tempo que não via ninguém comer com tanto gosto como minha família e eu. Ou a Silvia, dona do hotel em que ficamos em Montevidéu. Todas pessoas que seguirão comigo.

Os fiorentini (florentinos) abrem um sorriso de orelha a orelha quando você se dirige a eles em italiano. Foi o lugar em que mais senti isso.

A língua é um caso a parte. Minha cabeça já havia começado a funcionar em italiano dias antes da viagem. É uma delícia ser capaz de me expressar com as pessoas em italiano. E também em inglês. 

A minha inteligência, nas múltiplas inteligências, é a linguística. Então ser capaz de falar, pensar, escrever, me expressar e comunicar em outra língua me dá um prazer indescritível. É como exercitar uma parte do corpo que estava parada há tempos. Mas o italiano brota pelos poros...

Por falar em exercitar, nem preciso dizer que estou quebrada, depois de um dia inteirinho caminhando... Porém, uma quebrada feliz, extremamente feliz...

Mais um assunto digno de nota: no exterior tem que ir no supermercado. É de enlouquecer. Artigos inimagináveis. E coisas com preço bom. Chocolate Lindt e Toblerone por €1, por exemplo. Por volta de dez vezes mais barato que em Porto Alegre...

Aqui na Itália também compensa ir nas farmácias pra comprar cremes. La Roche-Posay e Vichy entre metade e 1/3 do preço.

Últimas pessoas que devo mencionar: meus amigos chegados, excelentes companheiros de viagem, divertidos e parceiros pra qualquer negocio; e nossa guia local, Eleonora; uma italiana que se criou em São Paulo. Lá pelas tantas descubro que morou em Porto Alegre, Caxias do Sul, Farroupilha e veraneava em Capão da Canoa. E que ama os cafés coloniais da serra gaúcha. Preciso dizer mais? Na minha próxima vinda a Firenze vou procurá-la...

Sim, próxima vinda... Porque um passeio de um dia é suficiente apenas para apreender que se está diante de um verdadeiro tesouro... Mas talvez uma vida não seja suficiente para se descobrir Firenze...

Um comentário:

  1. Ah! Itália! Magnifica, como sempre. E essa meninas...Ah! São sensacionais. Eu as adoro, muito! Gurias, baccio nell core. Carlos Leandro Maidana da Silva.

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