Já tinha escolhido um companheiro de viagem, que ficou meio de lado na Itália e que sabia que me faria reviver bons momentos: Horas Italianas, de Henry James. Apreciando muito...
"Viajar é, por assim dizer, ir ao teatro, assistir a um espetáculo; e há algo impiedoso em andar por ruas estrangeiras a fim de se deleitar com o 'caráter' quando o caráter consiste simplesmente nas maneiras ligeiramente diferentes como o trabalho e a necessidade se apresentam. Essas reflexões me vieram enquanto eu andava por um crepúsculo cheio de cores e carregado de deteriorados odores, mas depois de algum tempo deixaram de me fazer companhia. A razão disso, penso eu, é que - pelo menos para olhos estrangeiros - a soma da miséria italiana é, no todo, menos que a soma do conhecimento italiano da vida".
"Dentro da villa havia um grande amor pela arte e uma sala de pintura cheia de obras excelentes, de modo que, se a vida humana ali professava a tranquilidade, a tranquilidade era sobretudo a do ato concentrado. Uma bela ocupação nessa bela posição, o que poderia haver de melhor? Isso foi o que há pouco eu disse invejar - um modo de vida que não recua diante de tais refinamentos de paz e bem estar. Quando o trabalho, encantado com ele mesmo, se apresenta em um lugar sem interesse ou feio, nós o estimamos, o admiramos, mas não o sentimos como sendo o ideal da boa fortuna. Quando, porém, seus devotos se movimentam como figuras em uma antiga e nobre paisagem, e suas caminhadas e contemplações são como virar páginas de história, parece-nos termos diante de nós um admirável caso de virtude tornada fácil; virtude aqui quer dizer satisfação e concentração, efetiva apreciação da rara e refinada, ainda que compósita, forma de vida. Você não precisa querer uma aceleração ou uma colisão quando a própria cena, a mera cena, compartilha com você tal riqueza de consciência."
Lindo... O livro é repleto de descrições dos lugares visitados pelo autor, bem como de vivas reflexões... Combinação irresistível... E uma linguagem maravilhosa. Gosto da sonoridade de "encarapitada" e de "promontório".
E, casualmente, um filme também me fez matar a saudade... Pelo menos de Venezia... A Globo exibiu ontem O Turista, The Tourist, com Angelina Jolie e Johnny Depp.
Eu já amava esse filme, pelo misto de aventura e suspense e romance e locações de tirar o fôlego e um figurino indescritível da Angelina - belíssima, como de costume. Mas tudo ganhou novo significado e colorido. Ressignificar...
Creio que vou repetir a dose, assistir a outros filmes que se passam na Itália.
Lembrei dos versos do Fogaça, "Porto Alegre me dói, não diga a ninguém, Porto Alegre me tem". Parece inacreditável, mas os lugares tem, sim, o poder para nos doer e para nos ter. Pedaços nossos que neles ficam...
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